segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O que fazer no dia 11 de Fevereiro?


No dia 11 de Fevereiro, os portugueses vão votar na seguinte pergunta:
«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»
Televisão, jornais, internet, conversas de café... todos os assuntos terminam em "aborto". Não aguento mais tanta impugnação de argumentos, tanta propaganda deturpada, enganadora... com o intuito de levar os menos atentos, ingénuos ou mal informados a acreditar em histórias sensacionalistas, que fogem muito ou completamente ao teor da questão. Politicamente, prevalece as leis governamentais e os interesses dos governantes.
Para nós independentes dos actos políticos, não é fácil entrar num tema destes sem pensar e reflectir muito sobre aquilo que diz e futuramente ter a certeza daquilo que vai fazer no dia 11 de Fevereiro. Quando o assunto é a VIDA e a LIBERDADE HUMANA.
Não sou mãe mas tenho plena consciência que toda a mulher que um dia decide fazer um aborto de livre e expontânea vontade, usa toda a sua força física e psicológica, toda a sua coragem. Porque, independentemente do acto doloroso e penalizante que pratica, está em jogo uma série de riscos que se gravam para sempre na sua vida pessoal, social e psicológica.
Todos os anos continuam a se praticar ilegalmente milhares de abortos no nosso país. Isto é um facto inquestionável. À custa deste "negócio" há quem enriqueça e há quem morra. Há quem fique traumatizado para o resto da vida por falta de acompanhamento médico e psicológico, há quem não possa ter mais filhos pelas infecções irremediáveis...
Será que acabando com estes abortos clandestinos, não vamos ganhar mais vidas? Será que despenalizando aquilo que actuamente é feito a "sete chaves", não haverá ninguém que ajudará uma mãe desesperada a encontar soluções, outros caminhos para aquilo que é o maior pesadelo ou trauma da sua vida? Será que não salvamos ou contrariamos aquilo que parece já estar resolvido? Será?
Depois do referendo de 1998, o "Não" ganhou, a lei continuou igual e os milhares de abortos clandestinos continuaram. Nada mudou.
E todos os dias nascem crianças, crianças que não foram desejadas, crianças negligenciadas, crianças maltratadas, crianças carenciadas, crianças abandonadas na esquina, crianças humilhadas, espancadas e violadas... num mundo onde a preocupação principal é apedrejar a mãe que movida de forças maiores não pode trazer um filho ao mundo.
Há que se consciencializar que o crime não é só não trazer um anjo ao mundo. O crime já começa no momento que penalizamos alguém por aquilo que faz, sem tentar entender ou saber o porquê de tal acto indigno. Mais fácil incriminar que ajudar, mais fácil jogar pedras do que apresentar soluções, mais fácil argumentar do que dar uma mão...
Pois, neste referendo eu não posso ser contra o direito à VIDA . O tesouro mais precioso que todos nós temos. Por outro lado, não vou ser contra os direitos humanos e neste caso o da liberdade de uma mãe sem possibilidades de sair do país para resolver o dilema mais difícil da sua vida. Uma mãe que seja ela quem for, merece ser ouvida, compreendida e ajudada.
Ninguém duvida que cada um destes direitos representa algo de essencial na dignidade humana. O específico no debate do aborto é que cada um deles, sendo fundamental, se opõe ao outro que é igualmente fundamental. Assim, de certa maneira, ao defender um se está implicitamente a menosprezar o outro. Isto é que torna esta questão tão angustiante.
É preciso escolher uma resposta e ela, qualquer que seja, tem sempre implicações terríveis...
Não me admiro nada que no dia 11 de Fevereiro tanta gente opte pela abstenção.
Eu estou angustiadamente a reflectir sobre o que vou fazer. O mais certo é aguardar até à hora de marcar a bendita cruz e nesse momento, quem sabe nesse preciso momento alguém me mostrará o caminho, uma luz virá em meu auxílio e a minha consciência me segrederá o que fazer...

18 comentários:

o alquimista disse...

Eu voto na VIDA...!

E quero dizer-te que é infinitamente bonito saber que algures noutra ilha há um ser como ...tu...


Doce beijo

Goticula disse...

Sou a favor da despenalização do aborto, sou a favor da livre consciência...sou Vida e vida gero.
Cada um faz as suas opções, se for sim...seja em condições dignas.

Beijinhos

Maria disse...

Querida cacharel

Percebo perfeitamente as questões que colocas neste post, que é muito bonito, que serve para reflectir.
Não gostaria que estivesses angustiada, porque a angústia é má companhia, fica o estômago a doer.
Estou neste preciso momento a rever na rtpn o debate que ontem decorreu na rtp1, sobre esta questão.
E vou ser muito breve no que vou dizer: já fui mãe, adoro crianças, defendo a vida.
Mas a questão que se coloca é "Despenalizamos as mulheres que interrompem a gravidez ou não?"
Ou seja, mandamos para a prisão as mulherres que abortam ou, pelo contrário, vamos ajudá-las a que interrompam a gravidez não desejada em condições de saúde e assistência decentes?
Porque os abortos vão sempre continuar a fazer-se. Como tu dizes, o não do referendo de 1998 não alterou nada. Só que a lei não é cumprida. Mas vai ser, se o não voltar a ganhar.
Ninguém aborta por gozo. Ninguém aborta como método anticonceptivo. Ninguém aborta porque sim.
É terrível uma mulher ser obrigada a tomar uma decisão destas.
Mas é mais terrível ainda vê-las serem julgados e condenadas, e presas, porque em determinada altura das suas vidas tiverem que interromper uma gravidez não desejada.
Espero que no dia 11, quando fores pôr a cruzinha, alguém te mostre o caminho, como dizes no teu post.
Com a idade que tenho, porque já fui mãe, porque adoro crianças, porque defendo a vida, e porque sou mulher, não tenho dúvidas que vou votar SIM!
Deixo-te um beijo de boa noite

P.E.S. disse...

Tenho a certeza que essa angustia irá desaparecer.

Jinho

Carlos Henriques disse...

Olá cacharel
Primeiramente obrigado pelo teu comentário.
Quanto a "que fazer no dia 11 de Fevereiro" creio que devemos todos votar em consciencia.

**beijos**

Plum disse...

Também sinto que vai ser um voto angustiante, mas com consciência.
Voto pelo fim da hipócrisia, voto pelos meus direitos...

silvia disse...

Eu há uns tempos atras, estava a favor do sim, mas depois de tanta coisa que vi e ouvi, fiquei sensibilizada, já nem sei o que fazer no dia 11... Mudou muita coisa no meu pensamento e na minha opinião sobre esse tema.

A ver vamos.

Beijos

SMA disse...

Engraçado, fiz um caminho contrario ao da "isto e meu... silvia", antes era pelo o não e no momento que comecei a trabalhar no campo da intervenção comunitária, não tenho duvida, votarei no sim...
Essencialmente por três razões, pq o "Não" não dá nada e pelo contrario do que argumentam tiram, porque estou cansada de hipocresia e estou farta que a saude das mulheres seja a ultima coisa a ser pensada neste pais...

Bjo

Jorge disse...

Pois!
Tema pertinente...
Isto é um problema de consciência!
E de cada um...
E cada caso é um caso...

Beijinhos

AlfaBeta disse...

As pessoas que votarem no não, não vão impedir que haja mais abortos, vão é prolongar o negócio dos abortos clandestinos, porque os abortos nunca vão deixar de existir

o alquimista disse...

Noite companheira do feitiço...manto de lua, orvalho num sorriso...


Doce beijo

Alvaro Gonçalves Correia de Lemos disse...

Oi meu anjo,

Realmente já sentia saudade do teu perfume, e eis que apareceste e me visitas-te e hoje volto aqui a esta tua linda casa e te encontro no tão falado dilema do sim ou não, ou do sim e sim.
Enfim, a minha acção nesse dia tal como em outra altura é pela vida.
E me fico por aqui.
Desejando-te um fim de semana e uma semana cheia de luz em teu coração.
Bjokas mil e xi - corações.

Desambientado disse...

Percebo perfeitamente os dilemas, comungo das preocupações e já decidi com a minha consciência que não me vou abster, mas vou votar em branco.
Votar em branco tem um significado: Não se concorda com aquilo que nos é pedido em nenhuma das hipóteses. Acredito que poderemos fazer muito e muito por essa questão.
Responder do mesmo modo a uma pergunta tripla para mim é impossível.
Perguntam-me se concordo com a despenalização? Tenho uma resposta.
Se concordo com o aborto livre, não condicionado até às 10 semanas. Tenho outra resposta.
Se concordo com úma única decisão, se a da mulher? Este não é um referendo só de mulheres e uma criança tem dois pais, logo possa dar uma resposta que nada tem a ver com as anteriores. Em consciência o branco é a minha correcta posição.

Gostei muito do seu post.

C disse...

Expressar uma opinião sobre um tema tão pertinente quanto este, não é fácil!
No entanto, apelo a que no próximo dia 11 de Fevereiro, pelo menos...
VOOOOOOOOOOOOOOOOOTEM!

Plum disse...

Passei para te desejar um bom fim de semana!*

Beruska disse...

Antes de mais... desculpa esta "invasão". Cheguei aqui por curiosidade, mas não consegui ficar indiferente a este teu post, que, na minha opinião, corresponde ao sentimento de muita gente. Também já passei por essa fase, da indecisão e da angústia, porque concordo que a vida é um bem precioso, mas por outro lado não é justo que se condenem mulheres que tomam uma decisão dessas e que, de certeza, não o fazem de ânimo leve.
Não sou mãe, mas quero sê-lo.
Defendo a vida, mas prezo muito a liberdade e é por isso que voto SIM. Se o SIM ganhar, as probabilidades de acabar com essa desgraça que é o aborto clandestino são muito grandes... mas além disso, e o que leva a decidir pelo sim, é o facto de saber que assim as mulheres podem decidir (embora ache que essa decisão nunca, mas mesmo nunca pode ser unilateral - há sempre um pai, que também tem os seus direitos) se querem ou não abortar. Se quiserem, podem fazê-lo com segurança, se não quiserem, são livres de ter a criança. Por outro lado, se o NÃO ganhar... o aborto clandestino vai continuar a ser uma triste realidade, mas mais do que isso, a lei continuará a impedir os casais de fazerem uma escolha que pode condicionar e mudar as suas vidas...

rui disse...

Olá Cacharel


Que tenhas um lindo fim-de-semana

Beijinho

Maria disse...

Olá cacharel

Passei por aqui para ler o andamento deste teu post e para te deixar, a correr, um beijito de bom fim de semana...