Gerir o sofrimento

Todos os estados de espírito,

felizes ou infelizes a que nos habituamos,

têm tendência para se intensificarem.

Se nos habituarmos a ver apenas o aspecto doloroso

do mal que nos causam os acontecimentos e os seres,

chegará o dia em que o mais insignificante contratempo,

provocará um sofrimento infindo.

Como esse sentimento se intensifica com o hábito,

por fim, quase tudo o que nos aconteça

acabará por nos afligir e a felicidade deixará de ter lugar.

Dodrupchen Rinpoche

Para além dos nossos sofrimentos inevitáveis, tais como a doença, a velhice, a morte, a separação, a dor, o acidente... existe uma grande dose de dor e ansiedade que vem por acréscimo, construído por nós desnecessariamente. Preocuparmo-nos excessivamente com o que vai acontecer, acharmos vítimas de tudo e de todos não serve de nada, não alivia a dor nem traz bem-estar a ninguém. Na verdade é um acto de masoquismo "inconsciente".

Sabemos também que avaliar e aconselhar os outros torna-se muito mais fácil. Quando o sofrimento, a dor ou a desgraça nos "bate à porta", mais difícil é-nos gerir o nosso próprio sofrimento e encontrar o caminho mais certo para ultrapassá-lo.

Uma atitude correcta e construtiva de cada um perante o sofrimento, permite-nos enfrenta-lo com mais serenidade e sabedoria, sem nos sobrecarregarmos com mais sofrimento do que aquele que é impossível evitar. Ou seja, manter uma ética de vida correcta sobre os grandes obstáculos da nossa vida.

Penso que assim encontramos o caminho para a nossa felicidade. Ao contrário, esta e a nossa satisfação pessoal permanecerão eternamente numa pura miragem.

Há alguns anos atrás, eu li algo que nunca esqueci. Dizia assim: "Quem passou pela vida e não sofreu, passou pela vida e não viveu." Nunca mais esqueci. Porque o sofrimento pode chegar um pouco mais tarde, mas chega sempre. De diversas e múltiplas maneiras.

Habitualmente pensamos que ser feliz é não sofrer. Esta realidade empede-nos de atingir a felicidade, uma vez que vivemos num mundo onde o sofrimento impera e não há nada que o derrote. Há que reflectir sobre esse sofrimento, as suas verdadeiras causas e aprender a conviver com ele, afim de o transformar e transcender. No sentido de uma descoberta de uma felicidade e de uma serenidade mais autênticas.